segunda-feira, 5 de março de 2012

MULHER SEM MÁSCARA



Banha-se no ar que respira em brilhos nocturnos de luz das ruas e estrelas companheiras que cintilam nos passos ora calmos ora apressados, como se o destino tivesse compassos de tempo intermitentes.

Não gosta de se cruzar com a sombra negra da noite que vasculha os segredos dos sinais que os incautos tediosos na imbecilidade arrogante deixam cair durante o dia.

O seu empolgamento está na demanda das ondas vibrantes de prazer nas sombras da noite que a levam a desafiar-se a si própria até em dias gélidos, passeando-se pela costa de água murmurante confidente que saúda alegre, perguntando ao vento coisas da rua, coisas da vida, sinceridades das pessoas e das coisas que não entende.

Que lhe dizem os olhares de soslaio quando se desprende da teia do dia e mergulha nos braços de satisfação da noite? Na volúpia pessoal?

- Que fizera ela da sua própria sensatez??? Não devia ter uma como toda a gente?!... Ou a sua sensatez, também aqui, não se identifique nos padrões de muita gente comum?

Não se importa nem gosta de pedir muito, mas também não gosta que lhe tirem, nem uma lasca, da sua maneira diferente de viver. Gosta de exaltar os sentidos e pensamentos livres em interrogações vastas na tentativa de perceber melhor  os lados menos claros da vida, do mundo, para que se possa conhecer melhor... sem ter de ouvir repetidas insinuações e justificações automáticas e ocas.

Larga o olhar solto pelo horizonte no seu andar dançante sorvendo o gozo de respirar assim - tantas vezes em olhares transparentes para ver além do que é visível... adivinhando muitos encantos desconhecidos.

O frio que tanto arruína o corpo e tenacidade a qualquer um a ela estimula-a, fazendo-a deambular sozinha num prazer qualquer muito estranho, como se procurasse algo sem saber o quê.

É no silêncio cativador que esvoaça incógnito ao seu lado envolvendo-a de branduras frescas que recupera ensinamentos e verdades que pensara ter perdido.

De quem será a voz, a respiração, que a acompanha do outro lado da rua com quem conversa em longas caminhadas na sua liberdade única, partilhando emoções da sua alma?

Traz ao pescoço um amuleto que de noite é sol e de dia é lua a que se agarra com fervor tal como se ali tivesse a salvação e inspiração da vida.

Desabafa, aqui e ali, que há momentos e bocados da vida verdadeiramente estonteantes e de felicidade imensa, deliciosos, que podem ser tão rápidos que se não forem aproveitados no instante nunca mais se repetirão... palavras de emoção intensa que o brilho dos olhos se ilumina como chamas vivas, hipnóticos, magnéticos.

Prefere rasgar a revolta de si aos bocados (tantas vezes de dor profunda) pelo caminho que trilha ao acaso, para se entregar à ternura da alegria que a resgata a cada suspiro no sabor enamorado de alguém - como o deslumbre destes momentos audazes tem em si... e cantar bem alto que é assim que gosta de viver!

Constrói a cada escapadela em passeios que se prestam na sua vontade vagabunda o castelo transcendente dos seus sonhos mais viscerais. 

Sussurra em divagações arrastadas que é na música que encontra o pouso do descanso da cabeça, do espírito, da paz tranquila no adormecer.

Com o olhar feliz atira ao mar papelinhos de poemas sedutores do seu gostar, sorrindo... não sabe e nem quer defender-se de certas fogosidades das entranhas.

A fúria de viver (renascer, morrer) assim, já lhe marcou os passos para sempre!!!

Carlos Reis