domingo, 28 de agosto de 2011

CONTEMPLAR REFLECTINDO


Passava uma banda musical nas minhas costas lá em cima na rua, daquelas bandas de festas de rua, e os tom-tons dos tambores vieram juntar-se ao marulhar do mar que me entretinha do cimo do meu rochedo.
Não é que me tivesse incomodado muito mas veio despertar-me do sossego do momento e fazer-me pensar no meio ambiente, no mundo que nos rodeia diariamente.

Nós somos muito fruto daquilo que nos cerca. O meio ambiente e a maneira de viver à nossa volta está constantemente a moldar-nos.
O tempo, a natureza dos lugares onde estamos e andamos, as alterações que fazemos aos sítios que nos rodeia deixa marcas e condiciona muito a nossa maneira de viver e ser.
E as pessoas que conhecemos, ou não, com quem nos cruzamos todos os dias, vão cinzelando as nossas vidas e comportamentos, subtil mas vincadamente.

Pus-me a olhar à volta e, a matriz do sítio na sua essência continua praticamente a mesma mas, já há muitas alterações na figura, nas linhas da paisagem desta praia. O areal está a encurtar pela força do mar e também pela mão do homem. Há passagens e construções aqui e ali que vão dando jeito pela conveniência. Tudo isto não tira quase nada ao Belo do lugar mas altera o horizonte.
E é no meio disto que me ponho a pensar em mim, em nós pessoas, que também vamos sendo modificados, nas fragilidades e encantos, no tempo e meio ambiente que nos molda.

Há uns dias revi uma grande paixão minha de homem mais novo, e fiquei fascinado, novamente, pela sua beleza... não me admira nada que tivesse andado perdidamente apaixonado por esta mulher.
As pinceladas da passagem do tempo fazem-se sentir nela, e em mim também, mas ela está muitíssimo melhor que eu... o cabelo castanho claro solto abaixo dos ombros (sinto-lhes a maciez e cheiro) volumoso como crina rebelde... o rosto como "lágrima", bem oval em cima e estreito em baixo, como lhe disse tantas vezes... e os olhos de azul-cinza de sedução penetrante... misteriosos... continuam bem vivos.
Como bem vivos continuamos nós nas fragilidades e encantos que o passar do tempo nos dá!

O rochedo onde me sento e os outros à volta parecem-me mais pequenos e desgastados sobretudo nos desenhos que vislumbro agora... conheço-os bem desde miudito e os traços estão a ficar diferentes... mas continuam lindos e imponentes e lembram tantas loucuras de ontem.

A luz deste sítio continua fascinante como se fosse renovada todos os dias, há focos de iluminação entre as sombras das rochas e mar que são únicos, parecem lagoas suspensas no ar acima do mar, tentadores, que apetece mergulhar...

O horizonte longo e distante até lá ao fundo onde o mar e céu se tocam, se namoram, na imaginação estendida de partidas e chegadas de viagens de sonhos, levam-me na deliciosa descoberta de mundos como os meus sorrisos agora demonstram, olhando as pequenas enseadas na praia onde costumo passear.

E há este mar... este mar eterno... sedutor no feminino e conquistador nas aventuras de tantos rostos nos seus feitios do momento... de tantos cheiros provocadores e tentações a que não resisto... este mar sacaninha endiabrado, torturador no belo que desfalece qualquer tentativa de o amansar ... pega-me bem forte, cá dentro, na satisfação de tanto gostar...        
Que será de mim um dia quando não te puder sentir e sonhar?!!!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

ANDAR ASSIM



Há alegria, alegria imensa em nós, galgando terreno montanha acima na sinuosidade feminina, entre o delicado e robusto que tem o serpentear o seu corpo.

Chove miudinho mas o horizonte continua claro nas paisagens belas e agrestes no erguer de costas que se «acavalitam» umas atrás das outras.

E o cheiro do verde e da terra sobrepõem-se ao da água que cai sem parar em cabeleiras imensas formando danças de volúpia ao calhas nos sopros do vento, satisfazendo o olhar, os sentidos, tocando bem cá dentro até às entranhas.

Cada vez mais fazemos menos estas viagens de satisfação cúmplice pois a vidinha lá em baixo não está para brincadeiras muitas assim.

Apercebo-me, com o passar do tempo que, já não falamos muito nestas escapadelas de paixão, como se soubéssemos quão felizes estamos nos silenciosos elos dos sentimentos que se falam sem palavras... outra maneira de fazermos amor.

A primeira coisa que faz mais séria quando chegamos a casa (cabana de encantos e paixões), é mudar de roupa e descer por caminhos e carreiros de tantos outros passos recalcados, monte abaixo, até à ribeira que chama na correnteza áspera e sedutora que as coisas selvagens e virgens têm.

Intrépida e ladina lá vai indo à frente, rindo e desafiando-me... acompanho-a à distância, já tenho marcas de outras quedas em dias de chuva como hoje... quando chegar lá abaixo abraço-a e beijo-a  e... empurro-a para dentro da ribeira deixando-me ir também no prazer disto, como tantas vezes fizemos.

Molhados, muito molhados mesmo, não que tenhamos mergulhado hoje na ribeira, mas pela chuva que miudinha e teimosa não pára... fomos passeando pela margem na areia e pedras da ribeira... temos grutas mais adiante para nos abrigar.

Abraçados ... deixamos o olhar solto deleitar-se pela soberba imponente dos degraus  das escarpas dos montes à volta... envoltos de véus de água colorida e verde sem fim...  e o coração pula, e o pulsar do sangue extasia-se na felicidade do momento assim sem tempo...

Há tanta paz e serenidade como no conforto do ventre matricial, o silêncio nos sons naturais entranham-se em nós e os corpos perdem dimensão no deslumbramento.

E apetece ficar assim hipnóticos para sempre nestas sensações profundas, espirituais, de arrebatamento inefável.

Eis a nossa gruta preferida de boca grande e cheia de sinais e segredos de nós... no meio há duas rochas que formam um berço onde nos deitamos, ouvindo os cânticos da natureza lá fora que nos embala e abençoa... e a embriaguez inebriante dos sentidos toma conta de nós... e os brilhos dos olhos unem-se, e os lábios tocam-se no saboreio das bocas que se fundem... e o tempo pára e mais nada existe...   na alegria encantatória dos beijos dados, sem aflição, na entrega sem palavras... longos, muito longos quase sem sons... só o arfar sôfrego da respiração se ouve...  no ar... na carne... nos murmúrios dos ecos da montanha. 

Carlos Reis

terça-feira, 28 de junho de 2011

PERTENCER AO MUNDO


Olhas o espaço à tua volta como se pudesses pontuar as linhas de adivinhação do futuro, e isso são manifestações que não podemos medir.

Muito de divagações e desvarios - emanação das entranhas - que te fazem vibrar o ego e a alma.

São revelações e confissões que não controlas, simplesmente acontecem.

Transmites ao horizonte aberto que olhas, no mar sereno agora, a tua respiração desassombrada no espelho da água em gestos de encanto... compõe-se e desliga-se no ondular reluzente que baila sem parar.

Tenho olhos profundos e distantes à minha frente envoltos de silêncios com voz em mistérios de meditação, quietude, revelando no azul leve do fim da tarde o feitiço da noite que se veste para dançar nos braços frescos do ar.

Sibile... Ohhh Sibile, toca para nós... entoa-se no suspirar do ar sussurros em pedidos incessantes das brisas que se desfiam!

Por onde andaste para saberes tão bem como se seduz as estrelas do céu, a liberdade das aves e as ondas do mar assim?

Enleias pela vontade e pelo namoro muito das disposições do sabor do imprevisto e segredos dos impulsos que enriquecem os acasos, os cultivados e os outros.

Passeias-te sorridente de mansinho pelos compassos das rebentações das ondas nas rochas que gemem prazeres que conheces... são ecos indeléveis.   

A Lua aos teus olhos é o brinquedo sublime que moldas como te apetece, é o pêndulo do gostar do teu peito, crias e recrias a luz do espírito no momento, como as figurinhas de fantasia que nascem quando nascemos.

Depois saltitamos vivendo divididos entre a Aprendizagem e Conhecimentos da Mente , o Sentir da Alma e o Saber do Coração... são correntes em nós que nem sempre se dão bem, como bem sabes, mas unas no mesmo corpo... são universos imensos da Criação, talvez um dia possamos conciliar melhor os conflitos que estas forças, unas em transcendência, desencadeiam no intelecto, nos sonhos, nas paixões.

E há satisfação tanta, imensa em ti, que me toca profundamente... o espaço aberto e o mar são atalhos de pasmo de algo que procuras... não sabes o que é mas sabes que existe, algures num olhar infinito.

És um barco de sentidos soltos e livres que se embrulha no balancear da descoberta!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

IR ASSIM

É a febre teimosa e frenética que me faz deambular solto pelos cheiros da terra e da água, do fogo e do ar.

São os olhos das aves que me elevam no perscrutar as altas montanhas que desafiam as nuvens maciças em picos tamanhos que brincam com as estrelas.
São as escarpas de vales profundos que criam lagos de coloridos mágicos sem nome, que me entusiasmam o passear sem limites… e os jardins das planícies nas encostas sobrepostas são berços para descansar…
É o encanto do deslizar dos rios e a soberba dos mares que nos seus desafios de correntezas constantes empolgam-me as entranhas, e tudo isto é revolta e docilidade na beleza e dureza que no aparente caos demonstra a sublimação do suave das mãos da paz que criámos, nos seus contrastes apaziguadores.


São as pessoas e animais na demanda diária, entre quedas doridas e gritos de altivez, que não esmorecem nas lutas e batalhas de sangue e lágrimas e alegria esfusiante, nos cânticos de vitórias gratas pelo viver, pelo sobreviver em êxtase e euforia… que iluminam o brilho dos meus olhos no contínuo espanto de aprender algo todos os dias.


O fogo do sol, denso e sumptuoso no calor e luz sem igual, humilde e arrogante, atiça a chama em plenitude em cada pedacinho da existência em mim, em nós… desencadeia o fervor do sangue, das vontades e desejos… é um universo de eleição que rejuvenesce os fulgores mais adormecidos e atrevidos.


Hoje não te roubo ao céu Lua… vou ter contigo e deitar-me no conforto branco quente do teu leito… sonhar e em sonhos pedir-te que me contes mais dos teus segredos ancestrais… fala-me dos delírios e fascínios que já viste e provaste dos homens.


Não me chamem… deixem-me ir assim em asas de luz trespassando o ar voando livre e desprendido.
Parte de mim deixa o corpo e estende-se na fluidez dos átomos que sustentam o esvoaçar feliz.
Se pudesse esvair-me em alguma coisa diluir-me-ia em sons – sons do respirar inquieto e profundo dos sonhos… nos sons de magia dos risos… nos sons dos beijos em abraços apertados e demorados… em sons do pensar no pranto de continuar a descobrir coisas… em sons sibilantes e encantatórios que enchem as profundezas dos ecos em mim, como se tivesse mil vidas para desperdiçar.


Desafio-me até na raiva da vingança do tempo quando se lembra de me avisar que só tenho uma vida material para cumprir.
Que importa? A liberdade dá-me a inventiva de no pecado e virtude moldar correntes desenfreadas em que construo mundos e vivências para explorar.
Sou a osmose que separa e une a carne ao espírito na alma vagabunda que me anima.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

TEMOS DE IR

Temos de ir disse-nos a Lua – hoje despida de qualquer sombra e nua no seu esplendor – que as horas da noite irão ser empolgantes para os amantes vadios da luz de ruas desertas de falsidades e repletas de encontros de paixões vagabundas.



Há o fresco frio nas brisas do ar que não incomodam o latejar do sangue que bebe no calor de olhos e mãos próximas o incentivo para continuar.
A voz da rua chama muito em silêncio descomprometido, como sussurros de mulher apaixonada, quase sem sons mas intensos cá dentro.
A noite está tão clara que embriaga os sentidos e o ruído dos passos ecoam ao longe, os meus, os dela, e os dos espectros dos sonhos que se passeiam livremente.


O mar no seu cheiro e cantar, agora tão manso como o respirar dos brilhos das estrelas que nos acompanham, fazem sentir-nos tão imensos como o horizonte infinito que nos entra pelos olhos brilhantes que tudo querem tocar.
E soltamos sorrisos em beijos demorados que auguram desejos e vontades que sabemos vão ser cumpridos… e à volta gira o mundo num carrossel invisível que é o nosso leito de suor e sangue a pulsar.


Os passos soltos levam-nos aos mesmos sítios de ontem e hoje… lembrar a magia de loucuras e devaneios que ainda são os de hoje, são deleite saudável para repetir sempre… as marcas estão bem vincadas em nós e nestas pedras que sabem segredos incontáveis – lembras-te de andarmos nus em noites errantes nestes rochedos que entram mar adentro?


Embrulhada nos meus braços ia apontando para os desenhos da água, contando o que via nas ondas que no seu brincar formam visões surreais tamanhas que alimentam o imaginário livre… em elos febris no momento que nos fazem sentir bem no fantasmagórico que a noite proporciona


No ondular das ondas serenas há espuma que parecem folhas de papel que se espalham no areal… fomos ver e não tinham nada, são folhas de água em branco para escrever…
E escrevemos nas folhas da areia…”Viver e sonhar e voar é um jogo astuto e malandro… é intenso e desvairado… são altos e baixos de planícies, vales, montanhas que guardam e recriam o que temos dentro de nós… as nossas entranhas têm o saber das emoções e sentimentos em memórias que nem sempre são claras e percetíveis… só o uso diário as faz emergir”.


E em cantos de sombras de rochedos que a felicidade em nossas entregas de ontem, hoje, foi intensamente vivida… voltamos a derramar o nosso gostar e prazer.
Não nos esperem hoje à noite, amanhã voltaremos cheios de abraços do mar.