quarta-feira, 20 de julho de 2011

ANDAR ASSIM



Há alegria, alegria imensa em nós, galgando terreno montanha acima na sinuosidade feminina, entre o delicado e robusto que tem o serpentear o seu corpo.

Chove miudinho mas o horizonte continua claro nas paisagens belas e agrestes no erguer de costas que se «acavalitam» umas atrás das outras.

E o cheiro do verde e da terra sobrepõem-se ao da água que cai sem parar em cabeleiras imensas formando danças de volúpia ao calhas nos sopros do vento, satisfazendo o olhar, os sentidos, tocando bem cá dentro até às entranhas.

Cada vez mais fazemos menos estas viagens de satisfação cúmplice pois a vidinha lá em baixo não está para brincadeiras muitas assim.

Apercebo-me, com o passar do tempo que, já não falamos muito nestas escapadelas de paixão, como se soubéssemos quão felizes estamos nos silenciosos elos dos sentimentos que se falam sem palavras... outra maneira de fazermos amor.

A primeira coisa que faz mais séria quando chegamos a casa (cabana de encantos e paixões), é mudar de roupa e descer por caminhos e carreiros de tantos outros passos recalcados, monte abaixo, até à ribeira que chama na correnteza áspera e sedutora que as coisas selvagens e virgens têm.

Intrépida e ladina lá vai indo à frente, rindo e desafiando-me... acompanho-a à distância, já tenho marcas de outras quedas em dias de chuva como hoje... quando chegar lá abaixo abraço-a e beijo-a  e... empurro-a para dentro da ribeira deixando-me ir também no prazer disto, como tantas vezes fizemos.

Molhados, muito molhados mesmo, não que tenhamos mergulhado hoje na ribeira, mas pela chuva que miudinha e teimosa não pára... fomos passeando pela margem na areia e pedras da ribeira... temos grutas mais adiante para nos abrigar.

Abraçados ... deixamos o olhar solto deleitar-se pela soberba imponente dos degraus  das escarpas dos montes à volta... envoltos de véus de água colorida e verde sem fim...  e o coração pula, e o pulsar do sangue extasia-se na felicidade do momento assim sem tempo...

Há tanta paz e serenidade como no conforto do ventre matricial, o silêncio nos sons naturais entranham-se em nós e os corpos perdem dimensão no deslumbramento.

E apetece ficar assim hipnóticos para sempre nestas sensações profundas, espirituais, de arrebatamento inefável.

Eis a nossa gruta preferida de boca grande e cheia de sinais e segredos de nós... no meio há duas rochas que formam um berço onde nos deitamos, ouvindo os cânticos da natureza lá fora que nos embala e abençoa... e a embriaguez inebriante dos sentidos toma conta de nós... e os brilhos dos olhos unem-se, e os lábios tocam-se no saboreio das bocas que se fundem... e o tempo pára e mais nada existe...   na alegria encantatória dos beijos dados, sem aflição, na entrega sem palavras... longos, muito longos quase sem sons... só o arfar sôfrego da respiração se ouve...  no ar... na carne... nos murmúrios dos ecos da montanha. 

Carlos Reis