segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Olhares e Encontros


Dançou durante horas semi-nua, meneando e contorcendo o corpo para deleite de olhos cobiçosos.
Sabia o que fazia, era a rotina diária nocturna, quer gostasse ou não… e ela aprendeu a gostar de prender as atenções libidinosas de quem a via… homens e mulheres rendiam-se à sua arte de sedução e exaltação dos sentidos… felina, dominava e manipulava as ânsias do circo em redor, no ferver da carne transbordando de desejos.
Sabia que tinha de ser assim, sóbria ou bêbada, tinha de exalar perfume e excitação no palco que cheira a suor estafado.


Cansada, sai ladina em madrugadas sem muitos olhos, silenciosa resvala como as sombras.
Esguia, não sabe para onde vai, deixa-se ir como o vento sem rumo, já não tem encontros combinados.
Emproada e arisca, só os seus passos a acompanham no silêncio desamparado.
Defende-se do isolamento da noite cantarolando baixinho, dançando levemente no passar.
Só, verdadeiramente só, nunca está, tem a lua e as estrelas, agora disfarçadas no breu das nuvens, que a alentam no caminhar desembaraçado.


Se o frio e chuva beliscam a pele, sorri, ondulando o corpo em desafio.
Escusa-se aos grandes burburinhos de muita gente desatinada e barulhenta.
É vagabunda na independência e dispensa bem a concorrência.
Altiva pela experiência sabe o rumo que tomar no passear até ao mar.
É rocha firme nas cedências, agora em paz, só o que a cativa no deslumbre do olhar da noite, tem permissão aos toques mais íntimos… ao romance no momento!
É livre por que a liberdade do viver assim lho concebe pela soberba do querer assim... nos momentos que são só seus!


Passeia-se pela areia molhada da chuva que cai, descalça, desafia a intempérie, olhando o andar como se fosse a primeira vez, é o prazer de relaxar assim de novo, uma vez mais, todos os dias assim no gostar de estar assim, como se celebrasse a dança da semente, do renascer…sozinha no devaneio de expulsar a repulsa que a consumia.
Exorcizava o peso que não gostava do corpo e da alma.


Ouvir o mar furioso, o silêncio da noite alterada, a melodia da chuva persistente, respirar por momentos em total liberdade o fresco que a inunda por dentro, deixando as vísceras extasiadas sem pressões voar, fantasiar, era a delícia reconquistada.
E a eternidade que restava da noite era só para si e quem escolhesse.


Deitou-se nos meus braços, desarmando-se, descobri-lhe o sol alado dentro do peito palpitante.
Deixou-me olhá-la por dentro sem máscaras e vi: vontades, desejos, sonhos, que boiavam nas torrentes do sangue tonto que gritavam por serenidade.
Satisfiz alguns outros não - há vontades e desejos e sonhos que só nós próprios conseguimos realizar, mais ninguém os pode fazer por nós!
Mulher Bela esta que nas lágrimas soltas, sorrisos livres e olhar penetrante, pedia, sem palavras, que a deixassem olhar o sol da manhã sem pressas!


Já provei tantas vezes o Mel e o Fel de ti noite… e sabes?!... Gostei de ambos!!!


Carlos Reis