sábado, 1 de março de 2008

Despedimento Compulsivo



O despertador tocou como fazia todas as manhãs. Tânia espreguiçou-se, pensando que tinha mais um dia de trabalho pela frente.Entrou no quarto do filho, dando um beijo e dizendo para se levantar que já estava na hora.Foi para a casa de banho para tomar o duche, logo o filho iria precisar também e por isso teria que se despachar para liberar o lugar. Começou a preparar o pequeno-almoço, e enquanto o tomava ia orientando o filho. De manhã era sempre uma correria. Tânia era secretária, divorciada, e vivia para o filho. Chegou ao emprego pontual.Antes de começar a trabalhar, ela tomava o café e relaxava um pouco para enfrentar o dia que tinha pela frente. Trabalhava na empresa há mais de vinte cinco anos.Fiel e dedicada, acompanhara cada passo da empresa no seu desenvolvimento.Tânia orgulhava-se de ser uma funcionária cumpridora e zelosa.Naquela manhã, ela foi chamada ao gabinete do director, mas o assunto era outro.Ele tinha uma proposta para lhe fazer, mas teria que o escutar com atenção!Depois de o ouvir muito calmamente, respondeu-lhe que estava fora de questão analisar e muito menos aceitar tal proposta.Ele queria dispensá-la arbitrariamente, substituindo-a por mais nova e mais permissiva a certos caprichos hierárquicos!Quando chegou ao seu gabinete, Tânia deu asas ao pranto, chorando, gritando e barafustando convulsivamente.Num ápice, ganhou coragem e pensou que a melhor forma de se recompor era entregar-se de corpo e alma ao seu trabalho, como sempre o fizera.No íntimo, dizia que quanto mais se esforçasse, mais depressa esqueceria a " proposta " do seu director!Entretanto, os dias foram passando e Tânia tinha cada vez menos que fazer.Um dia chega ao gabinete e encontrou apenas uma cadeira para sentar-se.Foi uma explosão de sentimentos em poucos segundos.Sentia-se indefesa! Estava destroçada! Recorreu ao director, mas a proposta feita por ele mantinha-se de pé.Deixou de dormir, ficou apática e abúlica.Não queria acreditar! De um momento para o outro, a sua vida ruíra completamente!Sem dar por ela a depressão tomou conta dela. Impossível trabalhar naquelas condições. O médico obrigou-a a repousar-se em casa e receitou-lhe alguns medicamentos!Quando se sentia melhor ia para a empresa!Lutou três anos contra tudo e contra todos, mas a pressão foi mais forte: venceu-a !Tânia aceitou a proposta e foi-se embora, largando ali uma vida de trabalho e de zelo ! Quantas vezes deixaram de viver para dar prioridade à sua profissão! Num segundo o chefe jogara tudo no lixo, como se de um inútil e desprezível papel amarrotado se tratasse! Casos como o da Tânia infelizmente há-os aos milhões, neste planeta cada vez mais global e menos humano, porque no mundo do trabalho passou a imperar a lei da selva!

Isa Castro