Submerso
em pensamentos, ondas deles ao mesmo tempo no fresco da noite, apanho pedaços
de sensações de seduções serenas do momento, sentimentos de paz no sossego que
o mar e o crepúsculo dão. Mas há lamentos também que circulam no ar gritando
verdades de dor nos ruídos do silêncio que jorram por todo o lado.
E
isto incomoda-me... Isto não devia ser assim... Estes sons do silêncio deviam
ser de alegria, mais felizes, a natureza humana não é assim triste, pelo
contrário é bem mais entusiasmada, mais empolgante, mas o lastro sussurrante que
se sente é tão baço, tão sem cor que esmorece o sorrir.
Os
pensamentos também têm essa particularidade notável, giram livres e soltos por
todo o lado, têm massa e voltagem própria, vagabundos de sonhos e de desgostos
que nos vão moldando.
Quanto
mais descubro complexidades do mundo e da vida melhor reaprendo a olhar o que
me rodeia e, há tanto de belo e encantador que parece engolido, sem proveito, pelo
frenético caminhar apático que desperdiça o tempo que não volta mais.
E
isto é desolador!... - Dispenso bem as certezas e regras gastas e esburacadas
de alguns fazendo com que o homem não passe de mais uma vulgar marionete ao
sabor das conveniências estafadas, descaradas.
Cada
vez mais gosto das coisas simples como olhar os brilhos dos olhos cheios de
segredos, os sorrisos abertos cheios de cores, os afagos de mãos que
estremecem, a água no corpo que refresca e revigora, o deitar do dia que relaxa
e esvazia a cabeça das coisas repetidas, os passeios tranquilos no embalo
enamorado do mar.
Cada
vez gosto mais de olhar o brilho dos teus olhos e apanhar fragmentos dos teus
pensamentos vadios que me enchem de contentamento - são confidências que
decifro na tela do sentir montando todos os bocadinhos em cenários
deslumbrantes.
Tal
como no respirar e pulsar do sangue estamos constantemente a soltar energias de
nós que esvoaçam pelo ar para quem as quiser agarrar.
E
eu apanho o que apanho - as coisas enfadonhas e repetitivas deixo-as lá no
fundo nos cantos da cabeça para não chatearem muito.
Saboreio
em primeiro as traquinices e brincadeiras dos miúdos que fazem de mim
gato-sapato... as investidas sensuais da companheira - deliciosas - que fazem
de mim o elixir da juventude... os momentos de paz e sossego para ir lendo e
escrevendo e ouvir as musiquinhas lindas que gosto.
Prefiro
admirar e saber da alegria que transborda nestes concertos e festivais de
música muito pelo país fora. É de satisfação imensa o espanto que me invade na
alta voltagem que irradia destes acontecimentos vibrantes de vida, de
entusiasmo, no gostar de viver assim nem que seja por umas horas, ajudam a
mitigar as mágoas.
E
a música é um estado de exaltação sublime, de engrandecimento de tudo que
vibra, de transcendência dos sentidos.
Há
gente que escreve orações e desejos e vontades em papéis e panos (e na mente)
no cimo dos montes e montanhas e nos seus lugares, para que as mensagens voem
livremente em jeito de comunicação viva e saudações humanas-divinas... de outros viveres de sacrifício e penúria, mas
não menos alegres.
São
cantos ainda isolados mas intensos de acenos de vida que poucos prestam muita
atenção: São manifestações apuradas e nobres de sensibilidades únicas
São
chamamentos de atenção, alertas de emoções que evidenciam adormecimento nos
desequilíbrios que continuam a reinar neste paraíso terrestre.
O
mundo está convulso sob prantos tamanhos de mudanças repentinas que baralham o
viver até aqui conhecido... as mudanças
são sinais dos tempos e geralmente boas se as pessoas estiverem no topo da
pirâmide, mas temo que os gurus contemporâneos, idolatras de deuses do metal,
confundam tudo e inventem milagres torpes. levando as pessoas por caminhos de inveja
e ganância desenfreados.
Se
os valores e regras no cimo da pirâmide se invertem as pessoas desconfiam e
isolam-se... criam núcleos de grupos restritos e fechados... abandonando aos
poucos a esfusiante felicidade do convívio.
O
homem, a natureza humana, tem capacidades quase ilimitadas e que ainda não
conhecemos bem, é isso que nos vai valer para uma melhor e mais sadia
compreensão deste mundo belo em qualquer lado.
É
à volta da fogueira Universal, partilhando afectos, cantando e chorando e
sonhando, que nos vamos sentir verdadeiramente livres e felizes.
1 comentário:
pronto... e fiquei outra vez em pranto!
tens palavras sábias porque são os dedos dos sentires verdadeiros que as escrevem.
faz tão bem ler-te.
saudades.
beijo.
Enviar um comentário