terça-feira, 6 de abril de 2010

Sabores da noite



Nascia o dia levemente colorido com os suaves tons de azuis e verdes dados pelo sol, ainda escondido…
As faces dela perdiam os contornos do sombreado da noite,
O rosto pendido no meu peito tonificava-se de róseo laranja e amarelos de alva,
Dormitando ainda, o bater do seu peito em mim eram solavancos de vida,
Fluxos de energia que me trespassava o corpo e espírito em acalmia alegre,
Alentava-me a alma o gostar de estar assim céu aberto deitados na areia,
Nas graças dos olhares luminosos e brilhantes sob tão adorado manto de estrelas.

O silêncio seria total se ao longe o bailar ondulado do mar não se fizesse ouvir,
Aqueles vai e vem das ondas são instrumentos de música que não há igual,
Embalam-me tão docemente como embalam os anjos que se passeiam pela noite,
E sinto em todo o meu Ser o entusiasmo imenso do renascer de outro dia,
- Apetece-me gritar, e grito em silêncio… à luz e sons que assim me deixam vaguear.

Tanto de mim se expande cobrindo esta menina que se enrosca no berço do meu colo,
Uma concha, uma sereia, um serafim em perfeito desenho de feto,
É linda esta criatura feminina que exala néctares de ninfa… sabores de si,
Rosas, jasmins, plantas impensadas, perfumes dados por todos os seus poros,
Beijo-lhe os cabelos de seda… a esta mulher-amante dos passos da noite,
Longos e negros que parecem clarear pelos miríades pingos caídos do rosto cândido,
E húmido da noite.

O sol agora já é senhor de todo o seu poderio, braços abertos e mãos estendidas,
Vai pintando e reluzindo tudo que lhe aparece pela frente e como lhe apetece,
Contentamento de criança nos desvarios das cores em folhas brancas.

E esta minha embriaguez emocional faz-me rolar o sangue escaldante sem sentido,
Altera-me a geometria das veias na inebriante exaltação no seu corrediço andar,
É veneno bom em mim… é veneno bom que lhe estendo…
É veneno bom e gratificante de mim que lhe dou nos olhares que lhe pouso nos lábios!

Carlos Reis

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